13/04/2017

Floresta Proibida - Capítulo 1



Depois de muito tempo sem postar nada, hoje eu trouxe o primeiro capítulo do livro que eu estou escrevendo. A algum tempo atrás eu postei o prólogo dele e algumas pessoas disseram que queriam ler e eu fiquei muito animada com isso, então resolvi postar o primeiro capítulo que eu acabei de reescrever e melhorar, então me digam o que acharam por favor <3

E se você não leu o prólogo, é só clicar aqui!

O sol já começou a se pôr. Não sei por quanto tempo ao certo fiquei aqui na floresta, mas com certeza fora um tempo considerável. O sol ainda estava alto no céu quando cheguei na clareira. Todos já devem saber onde estou. E, com certeza, estão me chamando de bruxa. Se você não mora em uma cidade pequena, parabéns, porque olha, é um inferno. E é pior ainda se sua minúscula cidade tem costume ainda que medievais em algumas coisas, mas sem abrir mão da tecnologia, pois é, vai entender.

Eu acho que, com tanta tecnologia hoje, eles deviam saber que essa coisa de floresta amaldiçoada e de monstros como vampiros, não existem. E que eu não sou uma bruxa só por gostar da natureza. Mas aqui em Deverly é assim. Eles acreditam que tudo isso da mitologia existe, mas não eu, afinal é mito.


Eu sou a única garota ruiva natural da cidade atualmente, então para eles, isso já é mais do que suficiente para que eu seja uma bruxa. Junte isso ao fato de que o meu parente ruivo mais próximo está morto a algumas décadas e meus pais terem cabelos tão pretos quanto o céu noturno, e pronto, a população de apenas 4.568 pessoas acredita firmemente que foi o diabo quem me mandou. Como se eu acreditasse em diabo, ou em qualquer uma dessas baboseiras. Não me leve a mal, mas depois de tudo o que eu vi que essa gente é capaz por dinheiro, não consigo acreditar em nada do que dizem, muito menos na religião que eles pregam tão fortemente. A não ser que me provem o contrário.

As vezes acho que até meus pais acreditariam nessa baboseira se eles se preocupassem com alguma coisa a não ser o próprio dinheiro. Claro, eles freqüentam a igreja da cidade, dão dízimos e ajudam na congregação, mas por puro interesse já que a igreja basicamente move a cidade, junto com o dinheiro da parte rica da cidade. E sinceramente, isso me irrita. Pessoas sem um pingo de compaixão, de empatia, apenas se importam com seu próprio prazer e luxo.


Sim, eu não sou perfeita, sou a pior pessoa do mundo para muita gente, mas não por fazer mal a outras pessoas, e sim apenas por não fazer o mesmo que eles fazem por dinheiro. Nem todas as pessoas da cidade são ricas. Apenas uma pequena parcela, eu diria que uns 20% no máximo, porém eles controlam a cidade inteira e ai de quem se meter em seus caminhos. Por mais que eu faça parte desses 20%, eu não me encaixo no meio deles, então prefiro ficar aqui muitas das vezes. O barulho da cidade não me atrai. Suas fábricas e amontoados de pessoas só me deixam agoniada.

Porém, acontece totalmente o oposto aqui na calmaria da floresta. Os únicos sons são do riacho mais a frente, que corre calmo em rumo ao sul, o vento chacoalhando a copa das árvores tão verdes que parecem saídos de uma aquarela e os pequenos animais que habitam a natureza esplêndida ao meu redor, pequenos cervos, coelhos de todas as cores, sapos, a diversidade imensa de pássaros e muitos mais animais pelos quais eu seria capaz de largar a cidade se eu pudesse somente viver aqui na companhia deles. Sempre gostei daqui. Em todos os meus 17 anos, desde os 5 eu venho aqui. É meio difícil acreditar, eu sei, mas quando seus pais nunca estão presentes e você tem que se desdobrar para se livrar dos empregados que ficam na sua cola, você acaba se tornando muito auto-suficiente.

Sempre foi assim. E não é só pelos meus cabelos ruivos que eu não me pareço em nada com meus pais, enquanto minha mãe gasta rios de dinheiro com plásticas e tratamentos caros a fim de ter sua aparência de 15 anos atrás de volta, eu tenho uma pele pálida e lisa, sem as manchas de espinhas que é própria para a minha idade, mas um motivo de dizerem que tenho um pacto com o diabo. Meu corpo é magro, mas com curvas delicadas, enquanto minha querida mãe tem tanto silicone que não sei mais diferenciar o que é falso e o que é verdadeiro. Meu cabelo é de um ruivo quase loiro, liso com umas poucas ondas do meio até as pontas na altura do busto, enquanto que os dos meus pais são bem cacheados. Fisicamente eu poderia ser facilmente filha de pessoas totalmente diferentes.


E eu não me importo com o dinheiro, não me importo no que as pessoas vão pensar se eu fazer alguma coisa. Já eles só ligam para as aparências, assim como todos nessa cidade. Chega uma hora que cansa. Eu não vejo a hora de acabar o colegial e ir para a faculdade, e isso significa sair de Deverly e ir para Nova York.

Não que eu não goste da minha cidade, mas ela é totalmente isolada do mundo. A cidadela mais próxima fica a 200 km ao sul. Ao norte, tem a praia, leste, o mar aberto que se junta a praia e ao oeste, minha tão amada floresta. Ela é de proporções gigantescas e eu devo conhecer somente uns 10% de toda a extensão dela.

Meu local favorito é a clareira em que estou. Uma campina aberta de mais ou menos 100 m² com uma grama de um verde que não se vê na cidade. Ladeada com diversas árvores como pinheiros, carvalhos e diversas árvores frutíferas. Sem falar na lua maravilhosa que começava sua ascensão no céu noturno, derramando uma suave luz prateada no chão verde. Mesmo com toda essa beleza, nenhum morador de Deverly se arriscaria a chegar perto da floresta. Chega a ser hilário já que nunca me aconteceu nada de estranho na floresta. Exceto a vez que eu vira um par de olhos humanos escarlates.

Foi uma única vez, à 8 anos atrás. Mas eu não senti medo. Ao contrário, senti que, quem quer que estivesse por trás dos olhos rubros, me protegeria a qualquer custo. Sei que é loucura, mas foi o que eu senti, portanto que assim que ele ou ela percebeu que eu o avistara, se afastou e nunca mais tornei a ver seus olhos. Tentei de todas as formas, porém quem quer que me observasse com eles, fora cuidadoso o suficiente para não me permitir notá-lo novamente. Mas sei que ainda me vigia, posso senti-los me observando de longe. Sentir a sensação de que algo está ali.

Já passa das 21:30. Infelizmente preciso voltar ao barulho da cidade, por mais que eu ame ficar na floresta, amanhã eu tenho aula e, se eu quiser sair dessa cidade um dia, não posso faltar.

O caminho é tranquilo, com uma trilha suave até a saída da floresta, cheias de árvores floridas. Me pergunto como as pessoas dizem que esse lugar mágico seja amaldiçoado. Talvez seja por isso, por ser tão mágico eles não conseguem ver sua beleza. Por ser tão precioso e magnífico, eles temem sua imponência, pois sabem que na natureza, seu dinheiro e ganância de nada valem.

O barulho de um farfalhar de folhas desconhecido me tira de meus devaneios. Viver tanto tempo na floresta te faz conhecer os jeitos, ruídos e barulhos de tudo a sua volta e, com certeza, esse quebrar de folhas secas no chão não eram de patas comuns. Na verdade pareciam mais passos de pés humanos. Pés extremamente rápidos e duros que nenhum animal que eu conheça tenha. Nem mesmo humanos tem passos tão duros e ritmados dessa forma.


Um alarde de perigo começou a zunir em meus ouvidos como uma sirene em incêndios. Eu nunca tinha sentido algo do tipo antes. É como se um sino natural de que algo estava terrivelmente errado soasse em meus tímpanos e fizesse meu corpo responder com um pavor horripilante. Todos os meus sentidos ficavam a cada instante mais e mais em alerta, de acordo que o som se aproximava.

O farfalhar estava mais alto e mais forte a cada segundo e, por mais que eu quisesse correr de volta para a cidade, meus pés tinham se fincado ao chão, como as raízes das árvores ao meu redor. Eu não conseguia me mexer, não era capaz de fazer minhas pernas me responderem por mais que eu tentasse. O que se seguiu foi algo totalmente inacreditável.

Há 30m de mim estava uma criatura humanóide. De pele cinzenta, olhos âmbares como os de um felino e garras gigantescas nos pedaços de carne e ossos que eram suas mãos. Estava parado me olhando com uma fome violenta, não conseguia ficar ereto. Sua coluna era curvada, seus membros tortos e sua feição grotesca.

Da sua boca machucada e ensanguentada, estavam expostos dois caninos extremamente alongados e pontiagudos. Exatamente como os de um vampiro. Criatura que nunca acreditei que existisse. Porém, aqui estava eu frente a frente com um monstro humanóide com presas vampirescas.


Era surreal, por mais que meus olhos o vissem bem ali, a alguns metros de distância, eu não conseguia acreditar que fosse real. Sua pele extremamente acinzentada deixava os ossos a mostra, como se não existisse carne por baixo da pele que parecia apodrecida. Parecia fazer grande esforço para se manter em pé. A curvatura de sua coluna era algo bizarro e assustador, assim como o sibilo que saia de seus lábios como um assobio baixo, que vinha do fundo de sua garganta. Seu aspecto era de um animal faminto, como se não comesse a meses e suas íris âmbares de fendas me encaravam como se eu fosse a sua refeição.


Qualquer pessoa em sã consciência teria corrido o mais rápido o possível, mesmo que meu sentido me dissesse que não adiantaria nada, pois a criatura seria mais rápida que eu. Porém eu não me mexia. Nenhuma parte do meu corpo me respondia, estava totalmente paralisada, uma presa fácil. Chegava a ser engraçado. Enquanto minha mente estava a mil, olhando para a criatura, minhas células não sabiam mais o que era se moverem.

A fera avançou com uma velocidade sobre-humana para mim, mas parecia que alguém tinha diminuído a velocidade do tempo. Enquanto a coisa avançava com seus dentes expostos em minha direção, eu era capaz de perceber todos os mínimos detalhes do que acontecia. Antes que eu sentisse suas presas em mim, um par de mãos me empurrou fortemente. Bati forte contra um carvalho a poucos metros de mim e tudo o que eu conseguia sentir era a dor que irradiava da minha cabeça e se espalhava por cada centímetro do meu corpo. Alguém havia me salvado. Me esforçava para tentar entender a cena que se seguia à minha frente, porém minha vista estava turva e embaçada devido a pancada. Dor irradiava da minha cabeça em direção ao restante do meu corpo e a cada segundo era mais difícil me manter desperta. Não queria desmaiar, precisava saber quem era que havia me tirado do caminho da criatura, porém minha vista já não focalizava mais nada.

Já sentia minhas forças me abandonando, sabia que desmaiaria a qualquer momento. A dor era insuportável demais. Minha cabeça latejava de forma que parecia prestes a explodir nesse instante. Senti uma mão humana em minha testa e a dor se esvaiu quase que instantaneamente, forcei minha vista ainda turva a tentar focalizar o borrão a minha frente porém a única coisa que eu consegui ver foram os mesmos olhos escarlates de 8 anos atrás. A mesma cor que me vigiava escondido em meio aos galhos mais altos das árvores. A dor em meu corpo já havia cessado, mas senti-me extremamente cansada e pouco a pouco a escuridão tomou minha relutante consciência.


Nenhum comentário

Postar um comentário